26 de agosto de 2007

Moska...Drexler


Ontem foi o dia de Paulinho Moska.
Como sempre o show foi muito bom. E por várias vezes ele lembrou o evento que acontecerá nas próximas duas semanas - a vinda de Jorge Drexler. Ansiosa há meses, com certeza ficarei com aquele frio na barriga ao ver o ídolo. É,dele eu sou fã!!!
Música do Drexler e cantada na versão português pelo Moska e outros artistas brasileiros.
EDAD DEL CIELO
No somos más que una gota de luz
una estrella fugaz
una chispa tan sólo en la edad del cielo.
No somos lo que quisiéramos ser
Solo un breve latir
en un silencio antiguo con la edad del cielo.
Calma, todo está en calma
deja que el beso dure
deja que el tiempo cure
deja que el alma
tenga la misma edad que la edad del cielo.
No somos más que un puñado de mar
una broma de Dios
un capricho del sol del jardín del cielo
No damos pie entre tanto tic tac
entre tanto big bang
solo un grano de sal en el mar del cielo.
Calma, todo está en calma
deja que el beso dure
deja que el tiempo cure
deja que el alma
tenga la misma edad que la edad del cielo
La misma edad que la edad del cielo.

25 de agosto de 2007

Mart'nália



Homenagem a Mart'nália! Show maravilhoso que assisti ontem...
Lindo o dvd gravado em Berlim, recomendo!
Garota esperta. Escolhe a dedo os seus parceiros musicais - Moska, Djavan, Zélia Duncan... Filha de Martinho da Vila, Mart'nália faz jus ao dito "Filho de peixe, peixinho é". Não posso deixar de comentar os Cavaleiros de Jorge que a acompanham, pessoal de responsa: Analimar Ventapane, Alfredo Doca Machado ,Jorge Ailton, Menino Ovídio, Cassiano, Junior Crispin e Macaco Branco (clap clap clap!)

Ao meu modo, aqui vai uma boa dica. Esta música é quase uma ode ao "f#%@- se!". Aconselho cantá-la sempre quando da vontade de livrar-se de alguém indesejável ou quando na pura dor de cotovelo. Também vale.

http://www.youtube.com/watch?v=QYoYCQ2I6mE

CHEGA

Não, não te quero mais

Agora eu que decido aonde eu vou

Não, não, não suporto mais

Prefiro andar sozinha como for

Andar de madrugada feito traça,

feito barata, feito cupim

Dizer pra mim que eu gosto mais de mim

Que eu sou assim e não tem jeito.

Vai sair da minha vida, você vai ter que mudar

Da minha casa, de atitude e chega!

Ainda mais agora que eu vou viajar pra me livrar de você

Não quero mais ser seu amigo, nem inimigo, nada.

Andar de madrugada feito traça,

feito barata, feito cupim

Dizer pra mim que eu gosto mais de mim

É, que eu sou assim, e não tem jeito

Pra entrar na minha vida você vai ter que mudar

Da minha casa, dos meus amigos e chega!

Ainda mais agora que eu vou viajar e me livrar de você

Não quero mais ser seu amigo nem inimigo, nada.

Pra você é o fim da estrada, com você fechei a tampa

Da minha casa, dos meus amigos, chega!

Ainda mais agora que eu vou viajei e me livrei de você

Não quero mais ser seu amigo nem inimigo, nada.

20 de agosto de 2007

A Pipoca

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comida que cozinhando. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne com tomate, feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas as funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso o que aconteceu. A pipoca, o milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...) Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, então, da lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos de pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou com gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, soltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente das crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo de grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa – voltar a ser crianças!
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho da pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho da pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. “Morre e transforma-te!” – dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que sejam. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo Willian, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...


Rubem Alves

7 de agosto de 2007

Indefinido


Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu não sei na verdade quem eu sou.
Perceber de onde veio a vida
Por onde entrei deve haver uma saída
Mas tudo fica sustentado pela fé
Na verdade ninguém sabe o que é.
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração.
Descobri que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente rezando no escuro, tem gente sentido ausência.
"Eu não sei na verdade quem eu sou" - O Teatro Mágico

2 de agosto de 2007

O Trem


Tento de todas as formas lembrar o nome daquele trem... O trem que leva no seu vagão vários mundos, de toda gente que nele está. Que viaja e pára em qualquer estação que exista alguém para entrar, para sair.
Que trem é aquele que deixa tudo passar, que passa num trilho que parece nunca ter fim?
Há fumaça, há apito e há sempre algo a sua espera, mesmo quando ele já se sente velho demais e incapaz de ser esperado.
E ansioso o trem dispara, passo a passo, com pressa e preso: é a sua incapacidade de voar, de correr ou de simplesmente flutuar.
É o trem que tem medo de cair no abismo, de se chocar com outro. E quando pode ele muda a rota e parece voltar.
Que longo o trem.
Que longa a vida.