20 de março de 2009

Outono


Bem vindo ao outono! Minha estação preferida.
Outono é tempo de sol e frio, casacos e marrons. Laranjas e marrons.
É a estação mais corajosa, em que deixa-se morrer para tornar-se algo melhor.
Outono é o preparar-se para um novo ciclo.
Eu sou outono e espero sê-lo eternamente.

17 de março de 2009

Sonho Meu



Sonho meu, sonho meu
Vai buscar quem mora longe
Sonho meu
Vai mostrar esta saudade
Sonho meu
Com a sua liberdade
Sonho meu
No meu céu a estrela guia se perdeu
A madrugada fria só me traz melancolia
Sonho meu

Sinto o canto da noite
Na boca do vento
Fazer a dança das flores
No meu pensamento
Traz a pureza de um samba
Sentido, marcado de mágoas de amor
Um samba que mexe o corpo da gente
E o vento vadio embalando a flor...

Dona Ivone Lara

14 de março de 2009

Eu não morri

Eu não morri na praia, eu não morri.
Ainda chego e tomo o meu lugar ao sol!
O guarda-sol será o meu amigo e não trará grãos de areia aos meus olhos. Pedirei uma cerveja acompanhada de camarões ao alho e óleo.
Caminharei pela areia molhada de água e sal das ondas que acabam.
Catarei conchas do mar e fugirei das algas, sempre com meu sorriso de diversão e vitória.
Correrei. E, ao voltar para o meu lugar, estarei morto, de sede, e brindarei à vida com água de côco.
Sim, eu voltarei. Porém mais forte e experiente, confiante e feliz de tudo que viverei por ali.
Eu não morri na praia, estou chegando lá. Moro no centro e a caminhada é longa. Tenho muito a viver, mas lá também não morrerei.
Eu ainda voarei de asa delta e verei tudo por cima, na claridade do dia ensolarado e úmido.
Eu ainda empinarei pipas, correndo a favor do vento...
Eu ainda passarinho!

2 de março de 2009

Instruções para Chorar

Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas ou nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.
Julio Cortázar