23 de abril de 2007

Reflexões de Barnabé


Barnabé, seu Chico chegou! Trouxe lembranças de dona Sinhá. Fez pão e queijo, não sei se é bom. Sorriu pouco mas está feliz, sente que nada pior há de acontecer. Talvez seja um pressentimento positivo, afinal, quem disse que na roça não existe sinal, sexto sentido? Quiçá até mais dos que possuem televisão e afins.
Eu, um reles mortal, questiono de quê faz o homem. Sofrimento? Comida? Esperança? Inteligência? Átomos. Portanto, a matéria constitui o homem? Bem, só sei que o queijo do seu Chico é feito do leite. O leite da roça que é fruto de uma vida, assim como a mãe dá luz ao político, ao padeiro, ao jornalista e ao poeta.
O que distingue o homem? O leite de sua mãe? Sua fase pré-natal? O gado é a sua raça, que dirá do seu sangue, alma, procedência?
Eu cá, olhando os olhos do seu Chico e vendo quanta loucura e mistério é a vida de um cara que, para o resto da humanidade, é simplesmente um Zé, quer dizer, um Chico ninguém, que mal existe no mapa. Vejo também a dor de um pobre que não põe esperanças sobre seu destino, apenas vive cuidando de sua roça, preparando seus queijos, amando sua sinhá. Olhando mais profundamente, vejo que tem uma mancha perto da íris, e que também tem rugas, e que também é matéria.
Lamento em me informar, mas não chego a conclusões. Por mais que eu tente ser espírito não consigo distanciar do meu lado irônico, mesquinho, crítico, imbecil, supérfluo, atômico.
Alma pobre que eu sou, Barnabé! O espelho nunca salva, eis a tentativa. Contentarei com a casca, a pele da minha existência. Repetirei todas as minhas angústias sabendo que nunca ficarei feliz com os resultados. Continuarei olhando as manchas dos olhos dos outros e reconhecendo que todos somos coitados. Viverei sempre assim, analisando a natureza rústica de quem vive fora do padrão estético da ingrata modernidade. E para esquecer tudo isso(senão me tornarei um alienado) vou para a rua engolir as coisas boas da vida, a praça, os amores, os luais, assim como todo o eu brasileiro, que se resume apenas em água, pão e carnaval.

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