29 de maio de 2007

Ai se Sesse

Conheci este poema pelo Cordel do Fogo Encantado. Virou um dos momentos mais esperados dos seus shows, quando o vocalista Lirinha começa a dizer, com aquele sotaque de Pernambuco: "Se um d(í)a nóis se go(x)tasse..."
Segue em coro a platéia até o fim.
Dizem que o poeta Zé da Luz, autor deste lindo poema, no início do século passado escreveu Ai se Sesse por tanto ouvir as pessoas dizerem que para se escrever um poema de amor deveria fazê-lo com o portugês correto e palavras rebuscadas...
Taí, o manifesto comprovou que isso é uma grande lorota.

AI SE SESSE

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se
de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se.*

*Há várias versões de escrita desse poema na Internet. Peguei, no entanto, a que está no site oficial(acho que é) do Cordel do Fogo Encantado www.cordeldofogoencantado.uol.com.br

26 de maio de 2007

Samba, sim

Aqui vai um pouco da história do samba...

No ano de 1933 a Mangueira desfilou com um samba de sua autoria, “Homenagem”, que se tornou o primeiro samba de desfile de escola a mencionar personagens da História do Brasil. Consta também que para o desfile daquele ano a escola providenciou alguns quadros (estandartes) com os rostos dos poetas citados no samba (Gonçalves Dias, Castro Alves e Olavo Bilac), dando origem, assim, ao que mais tarde se chamaria de alas. Além disso, com este samba, a Mangueira foi a primeira escola a unir o samba ao enredo, originando o samba-enredo.
O samba-enredo é uma modalidade do samba criada pelos compositores das escolas de samba do Rio de Janeiro. Suas origens datam justamente do início da década de 1930. no samba-enredo a letra deve compreender o resumo poético do tema histórico, folclórico, literário, biográfico ou mesmo de criação livre, que foi escolhido para enredo ou assunto da apresentação da escola de samba em seu desfile-espetáculo diante do público. Inicialmente cantado apenas durante os desfiles das escolas de samba na Praça Onze de junho, no Rio de Janeiro, os sambas-de-enredo passaram a interessar também aos cantores profissionais a partir da década de 1940. (...) Desde a sua criação, o samba-enredo passou por algumas mutações, como a que lhe conferiu Martinho da Vila, nos anos de 1960 e 1970, ou a que ocorreu nos anos 1980 e 1990, o samba-enredo-marcheado, predominante até hoje, com seu ritmo da marchinha de carnaval mais sincopado e mais fácil, visando levantar o público das arquibancadas assim que a escola pisa na Passarela do Samba. Com Carlos Cachaça e sua geração, da Mangueira, assistimos então o nascimento do samba-enredo em sua forma original, com cadência própria e letra de samba, mas integrado ao desfile da escola.


Trecho retirado do "Livro de Ouro da MPB", de Ricardo Cravo Albin

21 de maio de 2007

Escolha o seu sonho

Devíamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas,as suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma, devíamos poder contruir essas pequenas obras-primas incomunicáveis, que ainda menos que a rosa, duram apenas o instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro vestígio que a nossa memória.
Como quem resolve uma viagem, devíamos poder escolher essas explicações sem veículos nem companhia-por mares,grutas,neves, montanhas, e até pelos astros, onde moram desde sempre heróis e deuses de todas as mitologias, e os fabulosos animais do Zodíaco.
Devíamos, à vontade, passear pelas margens do Paraíba, lá onde suas espumas crespas correm com o luar por entre as pedras, ao mesmo tempo cantando e chorando. - Ou habitar uma tarde prateada de Florença,e ir sorrindo para cada estátua dos palácios e das ruas, como quem saúda muitas famílias de mármore...- Ou contemplar nos Açores hortênsias da altura de uma casa, lagos de duas cores e cestos de vime nascendo entre fontes, com águas frias de um lado e, do outro, quentes...- Ou chegar a Ouro Preto e continuar a ouvir aquela menina que estuda piano há duzentos anos, hesitante e invisível - enquanto o cavalo branco escolhe, de olhos baixos, o trevo de quatro folhas que vai comer...
Quantos lugares, meu Deus, para essas excursões! Lugares recordados ou apenas imaginados. Campos orientais atravessados por nuvens de pavões. Ruas amarelas de pó, amarelas de sol, onde os camelos de perfil de gôndola estacionam, com seus carros. Avenidas cor-de-rosa, por onde cavalinhos emplumados, de rosa na testa e colar ao pescoço, conduzem leves e elegantes coches policromos...
E lugares inventados, feitos ao nosso gosto; jardins no meio do mar; pianos brancos que tocam sozinhos; livros que se desarmam, transformados em música.
Oh! os sonhos do "Poronominare"!...Lembram-se? Sonhos dos nossos índios: rios que vão subindo por cima das ilhas:...meninos transparentes, que deixam ver a luz do sol do outro lado do corpo...gente com cabeça de pássaros...flechas voando atrás de sombras velozes...moscas que se transformam em guaribas... canoas... serras... bandos de beija-flores e borboletas que trazem mel para a criança que tem fome e levantam em suas asas...
Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto: Alexandre, o Grande; São João Batista; o Rei David, a cantar; o Príncipe Gautama...
E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos... Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram mais merecedores de amor imortal...
Ah!... - (que gostaria você de sonhar esta noite?)

Cecília Meireles

15 de maio de 2007

De uma Alma


Dias atrás percebi uma pequena luz que no céu piscava de segundo a segundo, parecia um sinal de alguma alma perdida no espaço. Depois a vi vagando por ali, protagonista, passeando entre as estrelas, ao redor da lua quase nova. Aquela luz brilhante se perdeu após um longo passeio. Pensei que talvez tivesse me enganado, colocando naquele simples cenário uma vida em que eu buscava ver.
Resolvi olhar ao meu redor. Prestei atenção na rua, nas pessoas dentro dos carros que passavam afobados, nas luzes daquela cidade louca, na calçada onde andava. Era noite e o que mais iluminava o caminho era o meu reflexo, a minha ofuscada luz que doava ao mundo, apesar do forte clarão de chamas que me ardia por dentro.
Depois daquele momento de admiração senti o grande sorriso que atravessava os enrugados traços do meu rosto e decidi correr insano pelas ruas. A única refeição teria sido nas primeiras horas do dia, só isso me impedira de correr a cidade inteira. Sentei-me no banco e comecei a te olhar. Olhei como se nunca tivesse visto alguém na vida, como se eu fosse um alienígena, um cientista, um escultor. De fato. Fiz teu retrato no vento, saboreando cada traço e dor que transmitias ao me ver.
Não me perguntes por que não mais sorri e nem por que fui embora sem ao menos dizer boa noite. A vida sempre nos deixa fazer coisas que não conseguimos explicar. E depois ficamos assim, procurando de todas as formas dar lógica, argumento, desculpas.
Conformo-me, pois é assim que o artista se faz, de corpo ou alma, de vento ou polpa, de pão e pilão, de ar e fogo, de luz, noite e tormento.

6 de maio de 2007

¡Volver!

Ainda em tempos de 'Saudá', hoje lembrei de uma música do Carlos Gardel que ouvi numa cena do filme Volver,d0 Almodóvar, cantado pela Estrella Morente(muito boa!) e *dublado* pela Penélope Cruz. Canção realmente linda que me rendeu algumas lágrimas...

VOLVER

Yo adivino el parpadeo
De las luces que a lo lejos
Van marcando mi retorno
Son las mismas que alumbraron
Con sus pálidos reflejos
Hondas horas de dolor
Y aunque no quise el regreso,
Siempre se vuelve al primer amor.
La vieja calle donde el eco dijo
Tuya es su vida, tuyo es su querer,
Bajo el burlón mirar de las estrellas
Que con indiferencia hoy me ven volver.
Volver
Con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien
Sentir
Que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir
Con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez.
Tengo miedo del encuentro
Con el pasado que vuelve
A enfrentarse con mi vida
Tengo miedo de las noches
Que pobladas de recuerdos
Encadenan mi soñar.
Pero el viajero que huye
Tarde o temprano detiene su andar
Y aunque el olvido que todo destruye,
Haya matado mi vieja ilusión,
Guardo escondida una esperanza humilde
Que es toda la fortuna de mi corazón.
Volver
Con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien
Sentir
Que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir
Con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez.