31 de outubro de 2007

Hallo... o que?


31 de outubro. Hoje o dia é do Saci!

Desde 2005 foi oficializado esse dia como uma homenagem à brasilidade, tendo esse personagem como símbolo dessa festa, que também e principalmente é um manifesto contra o "dia das bruxas", de uma cultura que não faz parte da nossa e não sabemos porque existe. "Gostosuras e travessuras" na minha terra é em setembro, no dia de São Cosme e São Damião! Ah,isso sim faz parte da minha infância...
O Brasil não precisa importar cultura, já temos o bastante, muito obrigado.
Entre lendas e cantigas, entre doçuras e travessuras, viva a cultura e o folclore brasileiro!
E por falar nisso, você sabe a história do Saci?

A Lenda do Saci data do fim do século XVIII. Durante a escravidão, as amas-secas e os caboclos-velhos assustavam as crianças com os relatos das travessuras dele. Os primeiros relatos são da Região Sudeste, em Minas e São Paulo. Em Portugal há relatos de uma entidade semelhante, que usa botas vermelhas. Há também variantes dessa entidade, na Argentina, Uruguai e Paraguai(Yasy Yateré), que é pequeno, gordo, vermelho e usa um bastão mágico dourado. Na Alemanha existe um anão chamado Kobolde, cujas características, de moleque travesso, são idênticas.
Seu nome no Brasil é de origem Tupi Guarani. Por aqui o Saci-Pererê é considerado um negrinho brincalhão de uma perna só que fuma um cachimbo e usa na cabeça uma carapuça vermelha, que lhe dá poderes mágicos, como o de desaparecer e aparecer onde quiser. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas;
O Saci-Saçurá tem olhos vermelhos. Ele também se transforma numa ave chamada Mati-taperê, ou Sem-fim, ou Peitica como é conhecida no Nordeste, cujo canto melancólico ecoa em todas as direções, não permitindo sua localização. A superstição popular faz dessa ave uma espécie de demônio, que pratica malefícios pelas estradas, enganando os viajantes com os timbres dispersos do seu canto, e fazendo-os perder o rumo. Ele adora fazer pequenas travessuras, como esconder brinquedos, soltar animais dos currais, derramar sal nas cozinhas e fazer tranças nas crinas dos cavalos.
Diz a crença popular que dentro de todo redemoinho de vento existe um Saci. Dizem que ele não atravessa córregos nem riachos. Se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira pode capturá-lo, e caso consiga sua carapuça, pode realizar um desejo.
Se alguém for perseguido por ele, deve jogar em seu caminho cordas ou barbantes com nós. Ele então irá parar para desatá-los, e só depois continua a perseguição, o que dá tempo para que a pessoa fuja.

"Se queres ser universal, cante a tua aldeia".

24 de outubro de 2007

Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração.

Chico Buarque

18 de outubro de 2007

Como Che


Em tempos de comemorações aos 40 anos da morte de Che Guevara me peguei relendo alguns trechos do seu diário de viagem, que ganhei há uns 4 anos, escrito antes de ser o tão conhecido líder revolucionário.
Participante também dessas comemorações, porém não cabendo a mim aqui discutir, analisar ou defender, faço h
omenagem bem mais light (como a intenção deste sítio), trazendo uma idéia aos viajantes aventureiros que, normalmente, lá pelas tantas se pegam com o estoque de miojo ao fim e sem dinheiro para se divertir.

"(...) Logo antes de o sol nascer, cruzamos uma dupla de beberrões, e decidimos nosso brilhante plano "aniversário". Consiste no seguinte:
1 - Um de nós fala qualquer coisa em voz alta que nos identifique imediatamente como argentinos, alguma coisa como che no meio de outras expressões e pronúncias típicas. A vítima então pergunta de onde nós somos, e nós começamos a conversar.
2 - Passamos a relatar nossas aventuras sem fazer muito alarde a respeito, o tempo todo com o olhar perdido no horizonte.
3 - Aí então, eu entro e pergunto qual é a data do dia. Alguém responde e Alberto suspira e diz: "Que coinciência. Faz exatamente um ano". A vítima pergunta o que aconteceu há um ano e nós respondemos que faz exatamente um ano que nós começamos a viagem.
4 - Então Alberto, que é muito mais cara-de-pau do que eu, solta um tremendo suspiro e fala: "Que pena que nós estejamos tão sem dinheiro, não vamos poder celebrar" (fala isso meio de lado para mim). A vítima imediatamente oferece-se para pagar, nós fingimos recusar por alguns instantes, dizendo que não teríamos como pagar de volta etc.,mas por fim aceitamos.
5 - Após o primeiro copo eu me recuso totalmente a continuar bebendo, e Alberto começa a rir de mim. Nosso anfitrião se irrita e insiste, eu continuo a recusar, mas não digo o porquê. A vítima continua a indagar,até que eu confesso, um tanto quanto envergonhado, que na Argentina não existe o costume de beber sem comer.
Quanto nós conseguimos utilizando esse plano depende de cada momento, mas a técnica nunca falha."

Do livro De moto pela América do Sul, o diário de viagem de Ernerto 'Che' Guevara.

12 de outubro de 2007

Inspiração ou transpiração?

Artigo de Renato Vivacqua
Inspiração ou Transpiração na Música Popular Brasileira?

A existência da inspiração, estro, engenho poético ou qualquer outro nome que se lhe dê, dentro do processo de criação de uma obra é motivo de muita polêmica. Os crédulos não abdicam de terem sido impregnados pela aura, enquanto os descrentes classificam de pueris tais enlevos. Uma coisa é certa: tem que haver o catalizador imprescindível que é talento. Sem ele não adianta ser inspirado ou diligente. O resultado será sempre pífio. Vamos para a gangorra.
Manuel Bandeira diz: "Não faço poesia quando quero e sim quando ela, poesia, quer". João Cabral de Melo Neto acha que tudo resulta de uma elaboração mental. Paul Valery afirmava: "O primeiro verso é editado pelos deuses". Carlos Drummond de Andrade - "não sou do tipo que senta e diz: vou criar uma poesia e conseguir". Stravinsky era enfático: "A inspiração vem do trabalho". Na música popular as divergências não são menores. Uns repudiam, outros decantam. Chico Buarque se analisa. "Sou um bom artesão. Trabalho bem com as palavras. Só que às vezes vem um lampejo, uma idéia luminosa - esse lance eu não domino. Por esse eu não respondo. Esses momentos mágicos me surpreendem". Edu Lobo: "O brasileiro é vidrado em negócio de inspiração, uma coisa quase religiosa, realmente mística. Acho que como proposta essa dependência da inspiração é a coisa mais atrasada e incrível. A música é o resultado de um trabalho muito duro". Caymmi se justifica - "não faço criações a não ser espontaneamente, eu não tenho fábrica de canções. Não sei fazer nada sob encomenda. Por isso sou considerado preguiçoso". Vandré ainda lúcido: "Sou um profissional de comunicação. Posso garantir que se você me pedir uma canção de amor, eu te dou amanhã, tão boa ou melhor que todas que fiz". David Nasser fala de Ary barroso: "O Ary fazia música por inspiração. Não fabricava. Tinha a febre santa. Onde ela baixasse sacava uma pauta e gravava no papel a melodia". Caetano sempre inspirado: "Inspiração quer dizer: estar cuidadosamente entregue ao projeto de uma música posta contra aqueles que falam em termo de década e esquecem o minuto e o milênio". Tom Jobim é racional: "Tem aquele compositor que diz que é 5% de inspiração e 95% de transpiração. É verdade". A verdade é que a frase foi cunhada pelo gênio-monopolista americano Thomas Edison e dizia: "O gênio é 1% de inspiração e 99% de suor". Noel Rosa, segundo seus contemporâneos, era um privilegiado quanto à criação pois a sua relampejava em cima do fato. Sobre inspiração ele dizia: "Eu só faço samba quando estou inspirado. Não procuro forçar mesmo porque não adianta. Quando a bossa falta nem um homem com poderes divinos é capaz de compor". O eclético Braguinha também se manifesta: "Nunca fiz força para fazer música. Todas saíram tão naturalmente que nem senti e quem sabe é esse o segredo do sucesso". E na história da MPB realmente muitos sucessos surgiram, segundo os protagonistas, desse encantamento súbito. Noel narra como surgiu o Até. Amanhã (até amanhã/se Deus quiser/ Se não chover/ Eu volto pra te ver, ó mulher) no seu retorno de uma excursão ao sul. "Deixei uma mulher e levava saudades. Fui para o canto do navio, pedi uma bebida, acendi um cigarro e o samba nasceu espontaneamente". A Saudosa Maloca de Adoniram existiu na Rua Augusta onde passava sempre. Certo dia começaram a demoli-la e a música veio de estalo. Fio Maravilha teve suas primeiras estrofes brotadas no Maracanã após um gol inesquecível do crioulo. Tom Jobim, contrariando sua teoria de estiva, conta como surgiu a belíssima Por Causa de Você (Ai, você está vendo do jeito que eu fiquei/ E que tudo ficou). "Dolores fez a letra com um lápis de sombrancelha, o instrumento que tinha na mão para não perder o momento de inspiração. Isso aconteceu numa sala da Rádio Nacional quando eu dedilhava a melodia. Dolores fez a letra em cima da perna, em cinco minutos". A letra de Arrastão, segundo Vinícius, também nasceu em cinco minutos. "Tom dedilhava o piano e eu escrevia a letra. Tudo espontâneo", 1961. Sucesso estrondoso bossa-novista de O Barquinho (Dia de luz/Festa do sol/E o barquinho a deslizar). Ronaldo Bôscoli depõe - "já tive inspiração de letras em diversos lugares, diversas situações: tomando banho, meditando ou emocionado por um fato como foi o caso do Barquinho. Um dia Menescal e eu voltamos de uma pescaria, sentamos na varanda e escrevemos a música de ponta a ponta: ele criou a melodia, e a letra saiu inteira". Muito mais poderia ser contado.
Deixo aos leitores a escolha entre a sudorese e o encantamento.

6 de outubro de 2007

Bemol

Acordei bemol
Tudo estava sustenido
Sol fazia
Só não fazia sentido.

Paulo Leminski