2 de junho de 2009

A Profissão

O garoto retraído e pacato vivia insossamente isolado no seu mundo de livros e televisão. Como cotidiano, nem ao menos questionava-se ao ouvir os comentários e proibições de sua mãe:
- "Meu filho, não pode correr na rua";
- "Artistas são todos desequilibrados, isso não é profissão";
- "Não pode mexer com eletricidade";
- "Não deve falar com estranhos";
- "Dinheiro não leva a nada";
- "Não pode mentir".
Sempre calado, nunca participava das conversas ao redor da mesa de centro. Apenas tomava o seu café, com postura tensa e olhos atentos. Em um dia atípico, uma amiga da mãe foi visitar a família para dar a notícia de que seu filho mais velho, enfim, tornara-se doutor. Virou-se para o garoto e perguntou o que gostaria de ser quando crescer. O menino parou, olhou para cima por alguns segundos, sorriu. Em seguida, olhou para a mãe e tornou-se sério, com um ar chorão, e triste respondeu:
- Acho que nada...

- Meu filho, todo mundo tem que ser alguma coisa na vida, ter uma profissão. Os garotos da sua idade sonham com uma carreira. Por que você não quer ser nada? - disse a mãe.
- É, sua mãe está certa. Você deve gostar de alguma coisa que vê na tevê ou que faz com os seus amigos, na escola, no conservatório... Não é verdade?

- É, eu gosto - concordou o garoto em tom melancólico - mas acho que a mamãe não iria gostar das profissões que eu poderia escolher: Ela não ia querer que eu fosse atleta, nem músico; Ela não deixaria que eu fosse engenheiro elétrico, nem relações públicas, nem economista e nem advogado.
É, acho que não poderei ser nada...

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