30 de setembro de 2009

Sem

Minha alma, sorrateira, vibra
No mero instante de pensar-te
E o pensamento, na dor escondida
Que corta o pulso, que jorra tinta
No quadro rubro da sorte.

Lanço-me ao delírio de querer-te
De par em par, de mãos ao deleite
De ouvir-te ao som que queiras fazer
Do beijo secreto, puro por merecer
Por mais ardor de entregar à própria morte.

A luz que por ora recria
O sano; desmancho a nostalgia
Desejar-te seria mais que afago: Implodo
De pouco a pouco que a fruta sacia.
Melhor a brasa que logo apago
Do que a dor de ter que ser forte um dia.

24 de setembro de 2009

Da Janela


Da minha janela ouço bem-te-vis, cigarras, ouço máquinas, carros e britadeiras.
Da minha janela penso, existo. De onde já veio o anseio de findar-me vem um estranho desejo de ser pássaro. Para outro lugar.
Da janela para dentro tenho papéis, contas a pagar, cobranças disfarçadas, histeria, conselhos, diplomacia, hipocrisia, um mundo impresso e digital em que me afogo.
Da janela para fora é o olhar do outono em que seco-me, morro para o florescer de amanhã.
A primavera mal começa e já sinto cheiro de terra molhada. Lá fora, todavia, lama.
De onde já veio o anseio de findar-me, da minha janela, grito. Vôo. Luto contra a gravidade e o tempo, contra os injustos e os imerecíveis.
Pago para ver o último dia de uma primavera que ainda vai chegar.
Pago para ver ao longe a minha janela, o buraco negro.

22 de setembro de 2009

E Chega a Primavera

Para quem chegou a ela...
FELIZ PRIMAVERA!

18 de setembro de 2009

Proposital

Há quem declare processual
Ele fala: é comportamental
Sujeito liberal julga o caso como normal
Mas se digo isso é só por questão temporal:
Não quero deixar de ser sentimental
E se isso for condicional
que venha qualquer temporal
Nada perco, pois sou mortal.
E de sufixo em sufixo,
natural - já que ainda existo -
ao menos em forma de poema banal.
O atual.

Já não me importa o conceitual
Só quero alma, calma, amor real
Algo altivo, genial,

O sabor do pequeno risco
de preferência com limão, gelo e sal.

14 de setembro de 2009

Contos de Fadas do Séc.XXI

Conto n° 1:
Era uma vez uma linda moça que perguntou a um lindo rapaz:

- Você quer casar comigo?
Ele respondeu:
- NÃO!
E a moça viveu feliz para sempre, foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes, visitou muitos lugares, foi morar na praia, comprou outro carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com as amigas sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.
O rapaz ficou barrigudo, careca, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma mulher.
FIM!!!


Conto n° 2:
Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:
- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei- me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...
E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:
- Nem fo... den... do!
FIM!!!