24 de setembro de 2009

Da Janela


Da minha janela ouço bem-te-vis, cigarras, ouço máquinas, carros e britadeiras.
Da minha janela penso, existo. De onde já veio o anseio de findar-me vem um estranho desejo de ser pássaro. Para outro lugar.
Da janela para dentro tenho papéis, contas a pagar, cobranças disfarçadas, histeria, conselhos, diplomacia, hipocrisia, um mundo impresso e digital em que me afogo.
Da janela para fora é o olhar do outono em que seco-me, morro para o florescer de amanhã.
A primavera mal começa e já sinto cheiro de terra molhada. Lá fora, todavia, lama.
De onde já veio o anseio de findar-me, da minha janela, grito. Vôo. Luto contra a gravidade e o tempo, contra os injustos e os imerecíveis.
Pago para ver o último dia de uma primavera que ainda vai chegar.
Pago para ver ao longe a minha janela, o buraco negro.

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