19 de dezembro de 2007

Mineira


"O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: Ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: Só isso? Assino achando que ela me faz um favor. Eu sou suspeitíssimo. Confesso: ESSE SOTAQUE ME DESARMA." Carlos Drummond de Andrade

Crônica moderna de fim de ano

Não se faz mais fins de ano como antigamente. Hoje em dia está tudo renovado e a tradição se encaixa às tendências da modernidade.
O Natal, ainda com tantas luzes, se transforma em um dos poucos momentos de encontro no ano de pessoas atarefadas que mal participam da vida do outro. É a noite em que todos se reparam e aos cantos comentam uns com os outros as novidades do ano: quem se separou, quem se juntou, quem envelheceu, quem rejuveneceu.
Na trilha sonora, definitivamente foram aposentadas as canções que embalavam o espírito natalino, em especial aquele cd da Simone! O garoto de 11 anos lança o som que a galera gosta e os clipes do momento. Os jovens cantam (em inglês) e imitam seus artistas em roupas, gestos e rebolados. As tias acham lindo; A mamãe pede bis.
A criançada hoje, mais adulta do que tudo e mais esperta do que a de antes, não conta mais com o serviço dos Correios e desde bem antes mandam um e-mail para Papai Noel, aproveita e envia uma cópia para o pai, a mãe e deixa seus desejos de Natal divulgados no blog e na lista de presentes do orkut. Precaução. Na lista, a novidade não é exatamente novidade: normalmente são versões atualizadas dos presentes do ano passado.
E assim seguem as festas de Natal e Ano Novo. As roupas de Reveillon são cada vez mais coloridas, já que a necessidade não se resume em apenas paz.
A esperança para o próximo ano se renova com o desejo de passar em um concurso público, e não mais subir de cargo na empresa. É contar quantas cirurgias plásticas pretende fazer, e não mais rezar para passar longe de um hospital.
Aguardamos 2008 chegar e com ele as novidades para o próximo dezembro.
Boas festas.

7 de dezembro de 2007

Fala,Charles


Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco.
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.

Charles Chaplin

30 de novembro de 2007

Ley de gravedad


¡¡Voy!!
Pensando en el pasado
Viendo de lleno el miedo y enfrentándolo
¡¡Voy!!
A veleta perdía
Llevá por lo que más brilla y con ventilación
¡¡Voy!!
Sin brújula ni prisa
En mi soledad me encuentro en technicolor
¡¡Voy!!
Sin huir de este tiempo
Aire pa los laberintos de mi corazón.
Las palabras que no son
Son paja en el camino
Los amigos que no son
Son sonámbulos de pasillo
¡Dime dónde estás, dime dónde vas, dime lo que ves!
Ley de gravedad...
No necesito tener alas pa volar
Ley de gravedad...
El viento gira y la veleta sigue igual.
Pero no pa siempre
Dicen los que ven
No pa siempre este mundo del revés
Pero no pa siempre
Dicen lo que ven
¡Pero no pa siempre!
¡Pero no pa siempre!

Canción de Ojos de Brujo
http://youtube.com/watch?v=hBW4OWCRt-M
http://www.ojosdebrujo.com/

25 de novembro de 2007

Latente

O que é bom brilha forte, e acaba
Do ruim, por muito tempo estraga
Furor que arrepia, ardente
A dor, somente
O choro, o riso
O desejo, indeciso
A alegria de outrora se disfarça
Em sentir mais, é quase farsa
Do não querer, do não sentir
Não viveria, enfim!
Por que tudo em mim é tão latente?

24 de novembro de 2007

Olha o jegue

Na viagem para o Ceará, que terminou hoje, fiquei impressionada com o estado e as suas várias contradições. De um lado, a grande pobreza que vive a região, maltratada pela seca e tudo o que ela acarreta; de outro, a beleza do seu fantástico litoral. Na capital, Fortaleza, tudo que é explorado, o que será, a sua história, os prédios arranha-céus e tantos outros que virão... É a riqueza de uma cidade e a miséria ainda visível em todo o restante...
Pareceu-me que os maiores ídolos do povo cearense são Tasso Jereissati e Fagner.
Pareceu-me que os maiores orgulhos do povo cearense são os famosos humoristas da terra e o tradicional animal da região, o jegue, minha gente! rs
Posto aqui algumas fotos dos lugares que mais me encantaram:
Canoa Quebrada: Fiquei apaixonada por este lugar! Antiga praia de nudismo que ficou conhecida nos anos 60 por ripongas de todo o mundo. Hoje com cerca de 3mil habitantes, tem uma vista incrível, um ar bastante místico e uma "Broadway", a rua de lazer que garante a vida noturna do lugar. Ainda vou comprar uma casa lá...

Lagoinha: Cartão postal do litoral cearense, Lagoinha é uma belíssima praia no município de Paraipaba. Muitos coqueiros, muita brisa e é muito aconchegante!

Flecheiras: Este nome vêm dos índios que viviam ali e pescavam com arco e flecha. Parece que estamos nas dunas do Maranhão. A paisagem de areia clara contrasta com o cenário ao lado, da praia do Mundaú.

Mundaú: Praticamente inexplorada, paradisíaca. Além disso, possui dois fenômenos que a faz ainda mais irresistível: o encontro da água doce do rio Mundaú com o mar e as paleodunas, em que as dunas de areia estão se transformando em pedras.
O Ceará vale a pena ser visitado!

16 de novembro de 2007

Respeitem meus cabelos, brancos

A homenagem desta vez é ao Dia da Consciência Negra!
Esse dia é celebrado desde a década de 1960 em 20 de novembro, que relembra a morte do Zumbi dos Palmares(em 1695) e traz uma reflexão do papel do negro e a sua inserção de forma justa na sociedade.

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender.
E se elas aprendem a odiar podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."
Nelson Mandela.

Leia sobre:
Fundação Palmares - http://www.palmares.gov.br/
Mundo Negro - http://www.mundonegro.com.br/
Quilombo dos Palmares - http://www.quilombodospalmares.org.br/

9 de novembro de 2007

Exterior

Por que a poesia tem que se confinar
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?

Waly Salomão

5 de novembro de 2007

Por que


Dá-lhe Otto!!! Depois do show de sábado(bom demais!), música hoje martelando...momento propício.

Por que você me quer assim
Triste e traiçoeiro
Se eu posso dividir meu corpo e meu amor.
Pra que ficar assim desesperada
Se ele falou que não lhe quer
Até de manhã
Vou esquentar os pães
Teus dedos
Até de manhã
Vou esquentar os pães
Teus dedos...
Na vida tenho muito que dançar
Para aguentar o peso
Pra parar de pensar no erro.
Por que você não quer
Ficar tranquila um pouco
Seu rosto é mais bonito rindo.
Pra que ficar assim desesperada
Se ele falou que não lhe quer
Até de manhã
Vou esquentar os pães
Teus dedos
Até de manhã
Vou esquentar os pães
Teus dedos
Por que você me quer assim
Triste e traiçoeiro...

31 de outubro de 2007

Hallo... o que?


31 de outubro. Hoje o dia é do Saci!

Desde 2005 foi oficializado esse dia como uma homenagem à brasilidade, tendo esse personagem como símbolo dessa festa, que também e principalmente é um manifesto contra o "dia das bruxas", de uma cultura que não faz parte da nossa e não sabemos porque existe. "Gostosuras e travessuras" na minha terra é em setembro, no dia de São Cosme e São Damião! Ah,isso sim faz parte da minha infância...
O Brasil não precisa importar cultura, já temos o bastante, muito obrigado.
Entre lendas e cantigas, entre doçuras e travessuras, viva a cultura e o folclore brasileiro!
E por falar nisso, você sabe a história do Saci?

A Lenda do Saci data do fim do século XVIII. Durante a escravidão, as amas-secas e os caboclos-velhos assustavam as crianças com os relatos das travessuras dele. Os primeiros relatos são da Região Sudeste, em Minas e São Paulo. Em Portugal há relatos de uma entidade semelhante, que usa botas vermelhas. Há também variantes dessa entidade, na Argentina, Uruguai e Paraguai(Yasy Yateré), que é pequeno, gordo, vermelho e usa um bastão mágico dourado. Na Alemanha existe um anão chamado Kobolde, cujas características, de moleque travesso, são idênticas.
Seu nome no Brasil é de origem Tupi Guarani. Por aqui o Saci-Pererê é considerado um negrinho brincalhão de uma perna só que fuma um cachimbo e usa na cabeça uma carapuça vermelha, que lhe dá poderes mágicos, como o de desaparecer e aparecer onde quiser. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas;
O Saci-Saçurá tem olhos vermelhos. Ele também se transforma numa ave chamada Mati-taperê, ou Sem-fim, ou Peitica como é conhecida no Nordeste, cujo canto melancólico ecoa em todas as direções, não permitindo sua localização. A superstição popular faz dessa ave uma espécie de demônio, que pratica malefícios pelas estradas, enganando os viajantes com os timbres dispersos do seu canto, e fazendo-os perder o rumo. Ele adora fazer pequenas travessuras, como esconder brinquedos, soltar animais dos currais, derramar sal nas cozinhas e fazer tranças nas crinas dos cavalos.
Diz a crença popular que dentro de todo redemoinho de vento existe um Saci. Dizem que ele não atravessa córregos nem riachos. Se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira pode capturá-lo, e caso consiga sua carapuça, pode realizar um desejo.
Se alguém for perseguido por ele, deve jogar em seu caminho cordas ou barbantes com nós. Ele então irá parar para desatá-los, e só depois continua a perseguição, o que dá tempo para que a pessoa fuja.

"Se queres ser universal, cante a tua aldeia".

24 de outubro de 2007

Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração.

Chico Buarque

18 de outubro de 2007

Como Che


Em tempos de comemorações aos 40 anos da morte de Che Guevara me peguei relendo alguns trechos do seu diário de viagem, que ganhei há uns 4 anos, escrito antes de ser o tão conhecido líder revolucionário.
Participante também dessas comemorações, porém não cabendo a mim aqui discutir, analisar ou defender, faço h
omenagem bem mais light (como a intenção deste sítio), trazendo uma idéia aos viajantes aventureiros que, normalmente, lá pelas tantas se pegam com o estoque de miojo ao fim e sem dinheiro para se divertir.

"(...) Logo antes de o sol nascer, cruzamos uma dupla de beberrões, e decidimos nosso brilhante plano "aniversário". Consiste no seguinte:
1 - Um de nós fala qualquer coisa em voz alta que nos identifique imediatamente como argentinos, alguma coisa como che no meio de outras expressões e pronúncias típicas. A vítima então pergunta de onde nós somos, e nós começamos a conversar.
2 - Passamos a relatar nossas aventuras sem fazer muito alarde a respeito, o tempo todo com o olhar perdido no horizonte.
3 - Aí então, eu entro e pergunto qual é a data do dia. Alguém responde e Alberto suspira e diz: "Que coinciência. Faz exatamente um ano". A vítima pergunta o que aconteceu há um ano e nós respondemos que faz exatamente um ano que nós começamos a viagem.
4 - Então Alberto, que é muito mais cara-de-pau do que eu, solta um tremendo suspiro e fala: "Que pena que nós estejamos tão sem dinheiro, não vamos poder celebrar" (fala isso meio de lado para mim). A vítima imediatamente oferece-se para pagar, nós fingimos recusar por alguns instantes, dizendo que não teríamos como pagar de volta etc.,mas por fim aceitamos.
5 - Após o primeiro copo eu me recuso totalmente a continuar bebendo, e Alberto começa a rir de mim. Nosso anfitrião se irrita e insiste, eu continuo a recusar, mas não digo o porquê. A vítima continua a indagar,até que eu confesso, um tanto quanto envergonhado, que na Argentina não existe o costume de beber sem comer.
Quanto nós conseguimos utilizando esse plano depende de cada momento, mas a técnica nunca falha."

Do livro De moto pela América do Sul, o diário de viagem de Ernerto 'Che' Guevara.

12 de outubro de 2007

Inspiração ou transpiração?

Artigo de Renato Vivacqua
Inspiração ou Transpiração na Música Popular Brasileira?

A existência da inspiração, estro, engenho poético ou qualquer outro nome que se lhe dê, dentro do processo de criação de uma obra é motivo de muita polêmica. Os crédulos não abdicam de terem sido impregnados pela aura, enquanto os descrentes classificam de pueris tais enlevos. Uma coisa é certa: tem que haver o catalizador imprescindível que é talento. Sem ele não adianta ser inspirado ou diligente. O resultado será sempre pífio. Vamos para a gangorra.
Manuel Bandeira diz: "Não faço poesia quando quero e sim quando ela, poesia, quer". João Cabral de Melo Neto acha que tudo resulta de uma elaboração mental. Paul Valery afirmava: "O primeiro verso é editado pelos deuses". Carlos Drummond de Andrade - "não sou do tipo que senta e diz: vou criar uma poesia e conseguir". Stravinsky era enfático: "A inspiração vem do trabalho". Na música popular as divergências não são menores. Uns repudiam, outros decantam. Chico Buarque se analisa. "Sou um bom artesão. Trabalho bem com as palavras. Só que às vezes vem um lampejo, uma idéia luminosa - esse lance eu não domino. Por esse eu não respondo. Esses momentos mágicos me surpreendem". Edu Lobo: "O brasileiro é vidrado em negócio de inspiração, uma coisa quase religiosa, realmente mística. Acho que como proposta essa dependência da inspiração é a coisa mais atrasada e incrível. A música é o resultado de um trabalho muito duro". Caymmi se justifica - "não faço criações a não ser espontaneamente, eu não tenho fábrica de canções. Não sei fazer nada sob encomenda. Por isso sou considerado preguiçoso". Vandré ainda lúcido: "Sou um profissional de comunicação. Posso garantir que se você me pedir uma canção de amor, eu te dou amanhã, tão boa ou melhor que todas que fiz". David Nasser fala de Ary barroso: "O Ary fazia música por inspiração. Não fabricava. Tinha a febre santa. Onde ela baixasse sacava uma pauta e gravava no papel a melodia". Caetano sempre inspirado: "Inspiração quer dizer: estar cuidadosamente entregue ao projeto de uma música posta contra aqueles que falam em termo de década e esquecem o minuto e o milênio". Tom Jobim é racional: "Tem aquele compositor que diz que é 5% de inspiração e 95% de transpiração. É verdade". A verdade é que a frase foi cunhada pelo gênio-monopolista americano Thomas Edison e dizia: "O gênio é 1% de inspiração e 99% de suor". Noel Rosa, segundo seus contemporâneos, era um privilegiado quanto à criação pois a sua relampejava em cima do fato. Sobre inspiração ele dizia: "Eu só faço samba quando estou inspirado. Não procuro forçar mesmo porque não adianta. Quando a bossa falta nem um homem com poderes divinos é capaz de compor". O eclético Braguinha também se manifesta: "Nunca fiz força para fazer música. Todas saíram tão naturalmente que nem senti e quem sabe é esse o segredo do sucesso". E na história da MPB realmente muitos sucessos surgiram, segundo os protagonistas, desse encantamento súbito. Noel narra como surgiu o Até. Amanhã (até amanhã/se Deus quiser/ Se não chover/ Eu volto pra te ver, ó mulher) no seu retorno de uma excursão ao sul. "Deixei uma mulher e levava saudades. Fui para o canto do navio, pedi uma bebida, acendi um cigarro e o samba nasceu espontaneamente". A Saudosa Maloca de Adoniram existiu na Rua Augusta onde passava sempre. Certo dia começaram a demoli-la e a música veio de estalo. Fio Maravilha teve suas primeiras estrofes brotadas no Maracanã após um gol inesquecível do crioulo. Tom Jobim, contrariando sua teoria de estiva, conta como surgiu a belíssima Por Causa de Você (Ai, você está vendo do jeito que eu fiquei/ E que tudo ficou). "Dolores fez a letra com um lápis de sombrancelha, o instrumento que tinha na mão para não perder o momento de inspiração. Isso aconteceu numa sala da Rádio Nacional quando eu dedilhava a melodia. Dolores fez a letra em cima da perna, em cinco minutos". A letra de Arrastão, segundo Vinícius, também nasceu em cinco minutos. "Tom dedilhava o piano e eu escrevia a letra. Tudo espontâneo", 1961. Sucesso estrondoso bossa-novista de O Barquinho (Dia de luz/Festa do sol/E o barquinho a deslizar). Ronaldo Bôscoli depõe - "já tive inspiração de letras em diversos lugares, diversas situações: tomando banho, meditando ou emocionado por um fato como foi o caso do Barquinho. Um dia Menescal e eu voltamos de uma pescaria, sentamos na varanda e escrevemos a música de ponta a ponta: ele criou a melodia, e a letra saiu inteira". Muito mais poderia ser contado.
Deixo aos leitores a escolha entre a sudorese e o encantamento.

6 de outubro de 2007

Bemol

Acordei bemol
Tudo estava sustenido
Sol fazia
Só não fazia sentido.

Paulo Leminski

25 de setembro de 2007

O meu amigo...


Minha mãe sempre foi fanática por Roberto Carlos. Desde pequena ouço as músicas e as histórias do rei contadas pela fã número 1. Na casa, um espaço reservado às suas duas(!)coleções completas em cd e mais uma em vinil. Além disso, fotos, reportagens, songbooks, biografias (inclusive aquela não-autorizada), canhotos de ingressos dos shows...

Confesso que sempre ouvi com certa distância, talvez pelo simples fato de que era a música da minha mãe, embora não se espante se pegá-la dizendo que curte Ramones ou Pearl Jam... Mas com o tempo aprendi a apreciá-lo com outros ouvidos, e em contextos ou versões diferentes reconheço que às vezes ele se mostra um gênio da canção popular, principalmente na sua época 'jovem-rebelde-sem-chapinha'.

Depois de "Todos estão surdos",o primeiro hit do rei que me fez empolgar de verdade (ok,a versão do Chico Science colaborou para a mudança do conceito), ontem em uma festa pirei ao poder cantar e dançar ao som do clássico "Ilegal, Imoral ou Engorda".
É uma brasa, bicho!


Vivo condenado a fazer o que não quero
De tão bem comportado às vezes eu me desespero
Se faço alguma coisa sempre alguém vem me dizer
Que isso ou aquilo não se deve fazer
Restam meus botões, já não sei mais o que é certo
E como vou saber o que devo fazer
Que culpa tenho eu, me diga amigo meu
Será que tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda.
Há muito me perdi entre mil filosofias
Virei homem calado e até desconfiado
Procuro andar direito e ter os pés no chão
Mas certas coisas sempre me chamam a atenção
Cá com meus botões, bolas eu não sou de ferro
Páro pra pensar mas não posso mudar
Que culpa tenho eu, me diga amigo meu
Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda.
Se eu conheço alguém num encontro casual
E tudo anda bem num bate-papo informal
Uma noite quente sugere desfrutar
No meu terraço a vista de frente pro mar
Mas a noite é uma criança, delícias no café da manhã
Então o que fazer, já não quero mais saber
Se como alguma coisa que não devo comer
Se tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda

Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda.

21 de setembro de 2007

A Primavera


Quando chega a primavera
Nada mais é o que era
A chuva cai, o ipê amarela
A noite vem mais bela com o entardecer.

Tudo volta a nascer
Da grama cinza o verde que era
Da lembrança do beijo o que agora congela
E vive eterna, viva e terna
como ela.

Estação do futuro, do passado que volta
Que repete a sua rota
Da realidade mais singela
de olhar quem tanto espera,
de desejar a quem venera,
de respirar, de luzes, cores,
de abelha em flores,
da sorte, da morte, da terra,
da esperança que nunca se encerra
Quando chega a primavera.

10 de setembro de 2007

Enfim,Drexler !!!


Então...Eis que chega o momento: falar sobre o show tão ansiosamente aguardado. Após um ataque de gastrite e quase-depressão durante algumas horas, devido ao possível impedimento de comprar os ingressos, veio uma agonia por 5 dias para chegar o sábado e assistir, enfim, o show sonhado por anos...

Na verdade, depois de assistidas as apresentações de sábado e domingo fiquei imaginando o que poderia escrever aqui, já que me senti compromissada a fazê-lo depois de um comentário em postagem anterior... Minha vontade foi de simplesmente dizer: Perfeito. ponto.
Porém, faço aqui uma tentativa de contar o que vi...vivi.
Um palco simples e colorido. Um cantor simples e colorido: de alma, de delicadeza, de vida. Modesto, simpático, inteligente. Interage com o público, fica nervoso(e ri), se preocupa em falar português, pára a música para desejar "saúde" a alguém que espirra, chama atenção do barulho de um celular numa sutil brincadeira de que deve-se programar o toque em "La Maior" para acompanhar a música, acha engraçado o estranho dançar do Arnaldo Antunes, se surpreende que o público conhece o seu trabalho, de verdade.
Foram shows lindos, abrilhantados por improvisos, pelo percussionista Guilherme Kastrup (que cajón era aquele!), por Paulinho Moska e Arnaldo Antunes. Foram dois dias diferentes, com músicas diferentes, emoções e interações diferentes. Mas meus olhos brilharam igual...
Sea...Frontera...Antes...De amor y de casualidad...Músicas que ainda não conhecia e que ouvi, admirada e curiosa. Curiosos também os arranjos especiais para Inoportuna e Soledad com o Arnaldo, Mi guitarra y vos, Eco...
Ao final do último show, momento tiete. Muito tempo de espera e pouco tempo para trocar palavras, autógrafo ao lado da letra de Sanar, foto... Mas valeu a pena!
Homenagens a Paulinho Moska, idealizador do projeto Mercosul Musical, que tornou possível a vinda de Jorge Drexler ao CCBB. Idéia muito boa de trazer a nós um pouco de nuestros hermanos sulamericanos!
E guardo na memória - babando - dois shows maravilhosos, um olhar calmo, uma simpatia tamanha, uma pele macia, um "¡Obrigado, corazón!" e a esperança de um breve retorno.
Visitem!

4 de setembro de 2007

Poesia Adversa

Tenho frases como as tuas
Frases ao ouvido ditas,
Frases de carne crua...
Ilusão da minha vida!
Sonho bom da vida minha!
Ouvir tua voz pela rua
E nunca mais ficar sozinha.

Saber que você vem,
Espero junto ao meu diário
Que um dia o meu contrário
Quis entender o mundo confuso.

E roda a agonia
Cabeça feito parafuso
Vai que não quer mais ninguém
(tenho frases, como as tuas...)
Hoje outro alguém é meu
Para um dia eu ser tua
E, quando chega esse dia,
O fim desapareceu...

Humilde versão, personalizada, da 'Lua Adversa',de Cecília Meirelles

26 de agosto de 2007

Moska...Drexler


Ontem foi o dia de Paulinho Moska.
Como sempre o show foi muito bom. E por várias vezes ele lembrou o evento que acontecerá nas próximas duas semanas - a vinda de Jorge Drexler. Ansiosa há meses, com certeza ficarei com aquele frio na barriga ao ver o ídolo. É,dele eu sou fã!!!
Música do Drexler e cantada na versão português pelo Moska e outros artistas brasileiros.
EDAD DEL CIELO
No somos más que una gota de luz
una estrella fugaz
una chispa tan sólo en la edad del cielo.
No somos lo que quisiéramos ser
Solo un breve latir
en un silencio antiguo con la edad del cielo.
Calma, todo está en calma
deja que el beso dure
deja que el tiempo cure
deja que el alma
tenga la misma edad que la edad del cielo.
No somos más que un puñado de mar
una broma de Dios
un capricho del sol del jardín del cielo
No damos pie entre tanto tic tac
entre tanto big bang
solo un grano de sal en el mar del cielo.
Calma, todo está en calma
deja que el beso dure
deja que el tiempo cure
deja que el alma
tenga la misma edad que la edad del cielo
La misma edad que la edad del cielo.

25 de agosto de 2007

Mart'nália



Homenagem a Mart'nália! Show maravilhoso que assisti ontem...
Lindo o dvd gravado em Berlim, recomendo!
Garota esperta. Escolhe a dedo os seus parceiros musicais - Moska, Djavan, Zélia Duncan... Filha de Martinho da Vila, Mart'nália faz jus ao dito "Filho de peixe, peixinho é". Não posso deixar de comentar os Cavaleiros de Jorge que a acompanham, pessoal de responsa: Analimar Ventapane, Alfredo Doca Machado ,Jorge Ailton, Menino Ovídio, Cassiano, Junior Crispin e Macaco Branco (clap clap clap!)

Ao meu modo, aqui vai uma boa dica. Esta música é quase uma ode ao "f#%@- se!". Aconselho cantá-la sempre quando da vontade de livrar-se de alguém indesejável ou quando na pura dor de cotovelo. Também vale.

http://www.youtube.com/watch?v=QYoYCQ2I6mE

CHEGA

Não, não te quero mais

Agora eu que decido aonde eu vou

Não, não, não suporto mais

Prefiro andar sozinha como for

Andar de madrugada feito traça,

feito barata, feito cupim

Dizer pra mim que eu gosto mais de mim

Que eu sou assim e não tem jeito.

Vai sair da minha vida, você vai ter que mudar

Da minha casa, de atitude e chega!

Ainda mais agora que eu vou viajar pra me livrar de você

Não quero mais ser seu amigo, nem inimigo, nada.

Andar de madrugada feito traça,

feito barata, feito cupim

Dizer pra mim que eu gosto mais de mim

É, que eu sou assim, e não tem jeito

Pra entrar na minha vida você vai ter que mudar

Da minha casa, dos meus amigos e chega!

Ainda mais agora que eu vou viajar e me livrar de você

Não quero mais ser seu amigo nem inimigo, nada.

Pra você é o fim da estrada, com você fechei a tampa

Da minha casa, dos meus amigos, chega!

Ainda mais agora que eu vou viajei e me livrei de você

Não quero mais ser seu amigo nem inimigo, nada.

20 de agosto de 2007

A Pipoca

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comida que cozinhando. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne com tomate, feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas as funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso o que aconteceu. A pipoca, o milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...) Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, então, da lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos de pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou com gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, soltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente das crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo de grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa – voltar a ser crianças!
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho da pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho da pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. “Morre e transforma-te!” – dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que sejam. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo Willian, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...


Rubem Alves

7 de agosto de 2007

Indefinido


Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu não sei na verdade quem eu sou.
Perceber de onde veio a vida
Por onde entrei deve haver uma saída
Mas tudo fica sustentado pela fé
Na verdade ninguém sabe o que é.
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração.
Descobri que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente rezando no escuro, tem gente sentido ausência.
"Eu não sei na verdade quem eu sou" - O Teatro Mágico

2 de agosto de 2007

O Trem


Tento de todas as formas lembrar o nome daquele trem... O trem que leva no seu vagão vários mundos, de toda gente que nele está. Que viaja e pára em qualquer estação que exista alguém para entrar, para sair.
Que trem é aquele que deixa tudo passar, que passa num trilho que parece nunca ter fim?
Há fumaça, há apito e há sempre algo a sua espera, mesmo quando ele já se sente velho demais e incapaz de ser esperado.
E ansioso o trem dispara, passo a passo, com pressa e preso: é a sua incapacidade de voar, de correr ou de simplesmente flutuar.
É o trem que tem medo de cair no abismo, de se chocar com outro. E quando pode ele muda a rota e parece voltar.
Que longo o trem.
Que longa a vida.

26 de julho de 2007

Trava-línguas

O trava-línguas é uma sucessão de sons semelhantes, geralmente difíceis de serem reproduzidos quando pronunciados rapidamente.
Faz parte das manifestações populares da cultura das diferentes línguas e normalmente integra o repertório da literatura oral das crianças.

Casa suja. Chão sujo. Casa suja. Chão sujo. Casa suja. Chão sujo. Casa suja. Chão sujo. ..

Atrás da pia tem um prato, um pinto e um gato. Pinga a pia, apara o prato, pia o pinto e mia o gato.

Lá vem o velho Félix com um fole velho nas costas. Tanto fede o velho Félix como o fole do velho Félix fede.

Tem uma tatu-peba, com sete tatu-pebinha. Quem destatupebá ela, bom destatupebador será.

A Gigi já jejuou hoje e o João enjoou e jejuou junto.

Paulo Pereira Pinto Peixoto, pobre pintor português, pinta perfeitamente, portas, paredes e pias por parco preço, patrão.

Betty Botter had some butter,"But," she said, "this butter's bitter.If I bake this bitter butter,it would make my batter bitter.But a bit of better butter--that would make my batter better.

Um sapo dentro do saco O saco com o sapo dentro O sapo batendo o papo E o papo cheio de vento.

Trezentos e trinta e três trilhões trezentos e trinta e três milhões trezentos e trinta e três mil e trezentos e trinta e três.

Se o Papa papasse papa, se o Papa papasse pão, o Papa tudo papava. Seria o Papa papão.

El perrito de Rita me irrita.Si el perrito de Rita me irrita,dile a Rita que cambie el perrito por una perrita.

Quico quer caqui. Que caqui que o Quico quer? O Quico quer qualquer caqui.

Num ninho de Mafagafos cinco mafagafinhos tem. Quem os desmafagafizar um grande desmafagafizador será. (essa eu nunca consegui dizer!)

A batina do padre Pedro é preta.

Macarrão,Camarão,Caramujo. Macarrão,Camarão,Caramujo. Macarrão,Camarão,Caramujo. Macarrão,Camarão,Caramujo. Macarrão,Camarão,Caramujo. Macarrão,Camarão,Caramujo.

Quem a paca cara compra, caro a paca pagará.

E não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista, porque ornitorrinco é ornitorrinco, ornitologista é ornitologista, e otorrinolaringologista é otorrinolaringologista!

19 de julho de 2007

Pausa pro café

"Num salão de Paris,a linda moça de olhar gris,toma café. Moça feliz(...) Quedê o sertão daqui? Lavrador derrubou. Quedê o lavrador? Está plantando café. Quedê o café? Moça bebeu. Mas a moça,onde está? Está em Paris. Moça feliz". Cassiano Ricardo

De longa história, os primeiros cafeeiros já faziam parte das paisagens das montanhas da Etiópia antes do século 5º, onde seus grãos eram consumidos em forma de pasta, misturada a uma espécie de manteiga. Dali passaram para a Arábia do Sul - os grãos eram então torrados, reduzidos a pó num pilão, sendo esse pó jogado em água fervente. No final do século 15, em Meca, na Arábia Saudita, surgiram os primeiros locais públicos de venda de café, o que também aconteceu em Constantinopla.
Do Oriente para o Ocidente, o café veio a bordo das naus dos mercadores de Veneza. Os italianos, porém, não aprovaram a bebida à maneira turca, com o pó misturado à água, e decidiram criar uma receita ao seu próprio gosto: os grãos moídos eram colocados num filtro, sendo a água fervente derramada sobre o pó. A aprovação foi imediata e os primeiros salões de café viraram moda na Itália - eram locais sofisticados de reuniões de amigos.
Na França criaram-se saraus literários em torno do cafezinho, e consta que o rei Luis XV gostava de preparar o seu pessoalmente. Na Alemanha, o café ganhou como homenagem nada menos do que uma cantata, assinada por ninguém menos do que Johann Sebastian Bach. Na Inglaterra não fez muito sucesso, apesar de terem surgido muitas coffee houses pelo país, logo perdendo em popularidade para o chá, a indiscutível bebida nacional.
Quando os holandeses levaram mudas de cafeeiros para o Sri Lanka e Java, o café se aproximava do Brasil: das Índias Orientais, via Holanda, as mudas chegaram às Guianas. Então foi só atravessar a fronteira, na bagagem do Sargento-mor Palheta, para fazer do país, de 1840 a 1880, seu maior produtor mundial.

Do livro "500 anos de sabor", de Eda Romio

16 de julho de 2007

Pan Pan Pan...


É tempo de PAN!
Nesta Panacéia desvairada, brilha os olhos o que foge do cotidiano. União de vários esportes, países, medalhas e recordes.
Por falar em recordes, mal começou o evento e já temos um no quesito investimento: os estimados R$942,5 milhões quadruplicaram antes mesmo da abertura dos jogos! O bolso do brasileiro, gostando ou não de esportes, sem dúvida é o maior investidor desta festa.
Mas tudo acaba em medalhas. O Brasil, com sua enorme equipe distribuída nas 41 modalidades, dá ao coração brasileiro a esperança de muitos ouros. O torcedor, incluindo o bandido e o trombadinha, se aproveita para fazer parte também das conquistas - medalhas, festa, turismo, Rio de Janeiro...
Noves fora, A Comemorar! Palco para grandes estrelas, como a seleção masculina de vôlei e a queridinha Daiane dos Santos da ginástica artística, o Pan sempre traz grandes apostas e revelações. Eu aposto nos 22 brasilienses, sobretudo os do atletismo e dos saltos ornamentais e revelo que estarei sempre de olho nas competições até o encerramento.
Para quem gosta e quer ficar por dentro também, acesse o site
www.brasilnopan.com.br
Com ajuda da nossa torcida, dos organizadores, da polícia e a sorte do nosso mascote Cauê (que poderia ter se chamado Kuará), que o Brasil, ao menos neste Pan, nos dê motivos para orgulho de sermos chamados brasileiros.

12 de julho de 2007

Passatempo


Brincadeirinha light para quem estiver por aqui
Observe e encontre as pessoas que não estão nos dois desenhos.
Boa diversão!
Retirado do livro Explicando a arte, de Jô Oliveira e Lucília Garcez

11 de julho de 2007

Cultura

Poesia de Arnaldo Antunes

O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.
O bigode é a antena do gato.
O cavalo é o pasto do carrapato.
O cabrito é o cordeiro da cabra.
O pescoço é a barriga da cobra.
O leitão é um porquinho mais novo.
A galinha é um pouquinho do ovo.
O desejo é o começo do corpo.
Engordar é tarefa do porco.
A cegonha é a girafa do ganso.
O cachorro é um lobo mais manso.
O escuro é a metade da zebra.
As raízes são as veias da seiva.
O camelo é um cavalo sem sede.
Tartaruga por dentro é parede.
O potrinho é o bezerro da égua.
A batalha é o começo da trégua.
Papagaio é um dragão miniatura.
Bactéria num meio é cultura.


(Arnaldo Antunes in "Nome" São Paulo.BMG Ariola Discos,1993)

3 de julho de 2007

Fragmentos de um pensador


Eu não tenho jeito. Caio e fico, erro e repito, bebo e recomeço, prometo e desobedeço, e quando tudo é claro eu escureço.
Ninguém me conhece direito, pois toda e qualquer traição que cometo é da ponta do nariz para dentro. Que bom,ainda há quem me ame.
Eu filosofo e não chego a lugar algum. O que vejo assisto. E se choro, sorrio ou desisto é motivo para pensar e pensar e pensar...
Admito a inveja de não ser o que não sou, não ter o que não tenho. Oposto a isso reconheço, agradeço e quero apenas o que é para ser meu.
E o que é?
Não descobri. Exceto o que é meu e de todo mundo, como o dia, a noite, o futuro mudo, meus são pensamentos, gostos, meus amores platônicos que horas depois já não são mais. O que é meu o ouvido, a lembrança, os medos não superados. Se para algo ser eternamente meu necessita ser também do mundo inteiro eu fico nu, incendeio, descontrolo, peço arrego.
Eis-me nu, maltrapilho! Clamo a todos que sou mau, faço o mal e não quero mais a poesia, nem o sorriso de alegria. Dane-se a simpatia.
Volto a ser sem jeito, porém não arrependo mais que me arrebente. Não penso - apenas estratégias para a destruição. Quem sabe assim me torne alguém melhor, com mais amores, menos dores, sem horrores e nada mais me assustará. Nem este traiçoeiro e vil ato que é pensar.

29 de junho de 2007

Abraço aos amigos


Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

A todos eles que sempre estão por aqui e aqui dentro.

23 de junho de 2007

Flamenco


Já estava na hora de postar alguma coisa sobre a Dança Flamenca. É a minha grande paixão. Na verdade, flamenco não é apenas dança, mas expressão de cultura, de vida, de alma.
Amigos, não é exagero meu, mas quem um dia experimenta ver ou dançar entende esta sensação que vicia, e vibra, e sente, e chora, e sorri, e bate palmas, e sapateia, e sonha, e ¡olé!

A começar, um pouco da história do FLAMENCO

O flamenco é um estilo musical e um tipo de dança fortemente influenciado pela cultura cigana, mas que tem raízes mais profundas na cultura musical mourisca, influência de árabes e judeus. A cultura do flamenco é associada principalmente a Andaluzia na Espanha, e tornou-se um dos ícones da música espanhola e até mesmo da cultura espanhola em geral.
Muitos dos detalhes do desenvolvimento do flamenco foram perdidos na história da Espanha e existem várias razões para essa falta de evidências históricas:
Os tempos turbulentos dos povos envolvidos na cultura do flamenco. Os
mouros, os ciganos e os judeus foram todos perseguidos e expulsos pela inquisição espanhola em diversos tempos durante a “Reconquista”.
Os ciganos possuíam principalmente uma cultura oral. As suas músicas eram passadas às novas gerações através de actuações em comunidade
Granada, o ultimo reduto dos mouros, caiu em 1492, quando os exércitos de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela (os reis católicos) reconquistaram esta cidade após cerca de 800 anos de domínio muçulmano. O Tratado de Granada foi criado para assegurar as bases da tolerância religiosa, conseguindo com isso que os muçulmanos se rendessem pacificamente. Durante alguns anos existiu uma tensa calma em Granada e à sua volta, no entanto, à inquisição não lhe agradava a tolerância religiosa relativamente aos judeus e aos muçulmanos e conseguiu convencer Fernando e Isabel a quebrarem o tratado e a forçar os judeus e os mouros a converterem-se a cristianismo ou deixarem a Espanha de vez. Em 1499, cerca de 50.000 mouros foram coagidos a tomar parte de um baptismo em massa. Durante a rebelião que se seguiu, as pessoas que recusaram baptizar-se ou serem deportadas para África, foram pura e simplesmente eliminadas. Como consequência desta situação, assistiu-se à fuga de mouros, ciganos e judeus para as montanhas e regiões rurais.
Foi nesta situação social e economicamente difícil que as culturas musicais de judeus, ciganos e mouros começaram a fundir-se no que se tornaria a forma básica do flamenco: O estilo de cantar dos mouros, que expressava a sua vida difícil na Andaluzia, palmas ritmadas e movimentos de dança básicos. Muitas das músicas flamencas aindas refletem o espírito desesperado, a luta, a esperança, o orgulho e as festas noturnas durante essa época. Música mais recente de outras regiões de Espanha, influenciaram e foram influenciadas pelo estilo tradicional do flamenco.

Mais no site http://pt.wikipedia.org/wiki/Flamenco